Quem abduziu a nossa contabilidade?

Um pouco do processo que culminou na forma de fazer contabilidade no Brasil e tecer seu esteriótipo no imaginário popular e do empresário

Com o mercado conduzindo os empresários a trabalhar de uma maneira mais organizada, tanto por causa do preparo cada vez maior do fisco em combater a informalidade quanto pela maior gama de estruturas tecnológicas a disposição destes, finalmente começa a submergir a verdadeira contabilidade, com a qualidade e velocidade na geração das informações contábeis nas empresas.

Mesmo sendo uma espécie de antídoto para o veneno da mortalidade infantil empresarial, por oferecer Informações preciosas para salvar empresas, extraídas de onde a maioria dos empresários sequer pensou antes, na cabeça do senso comum ela é chata, sem utilidade prática e que só serve ao fisco.

Cabe a nós contadores promover ainda mais o encontro do empresário com a ciência da riqueza, e neste intuito é interessante refletir: como funciona nossa comunicação, o que acontece entre o contador, a contabilidade e o empresário?

Pergunte a estudantes dos cursos de administração qual a matéria mais chata? Certamente a contabilidade irá aparecer dentre as primeiras. Eu já fiz esse teste.

Mas porque será que contabilidade se tornou algo tão chato? Logo ela, uma ciência tão bonita descrita por Antônio Lopes e Sa como a ciência da riqueza e da prosperidade? Quem subtraiu o verdadeiro valor da contabilidade, principalmente aqui no Brasil ? Seria apenas a hiperburocracia estatal que nos abduziu da essência contábil?

Sabemos que, durante muitos e muitos anos, os profissionais contábeis eram como que carteiros “malvadões” que só traziam contas pro destinatário. Sempre que se via um contador era algum problema com o governo, deixar o honorário do mês ou ainda trazer guias de impostos. Esse carteiro não trazia nenhuma cartinha de amor, um aviso de que o empresário ganhou na loteria, ou algo de agradável naquela visita.

Além disso, em muitos casos, aparecia com livros grossos cheios de linhas e números e ao final três páginas com balanços e demonstrativos de resultados para o empresário assinar, sem nem mesmo saber que diabos era aquilo. – “Documentos do contador”. Alguém diria.

Como gostar de algo assim? Algo que você não entende, e que serve, na visão de muitos, apenas para pagar impostos e entregar ao Governo por meio de obrigações e declarações físicas ou eletrônicas.

Submeteram a contabilidade ao crivo do fisco

Foi assim que chegamos a um segundo passo: submetemos a contabilidade ao fisco. Como assim, Ronaldo ? Explico: o fisco, que não é bobo nem nada, logo percebeu o poder que tinha a contabilidade de ser um instrumento de controle da sua função de arrecadar, e assim se apoderou da contabilidade.

A Receita Federal era quem ditava, por exemplo, qual a taxa de depreciação ideal de um bem. Ou seja, o fisco era quem dizia qual o tempo de desgaste de um veículo e em quando tempo ele estaria obsoleto ou sem valor comercial. Não importava a realidade. Para a Receita Federal, um veículo estaria totalmente sem valor em apenas 5 anos. E se o contador fosse fazer diferente, seu cliente pagaria mais impostos para isso, e se reduzisse o valor do imposto, por depreciar mais rápido, estaria sujeito à multa.

Aí, o que acontecia? Antes de qualquer decisão contábil no julgamento sobre os mais variados temas, que impactassem alterações nos lucros ou prejuízos… qual o primeiro objeto de análise? Qual a interpretação da Receita para tal fato?! Ela era tida como que um guru, que dizia: PODE! ou NÃO PODE!

– Posso depreciar só 8%, Receita Federal ? – NÃO !! A taxa é 20% anual. Respondia ela!

Assim, muitos contadores se retraiam e ficavam sempre esperando orientação do fisco sobre como contabilizar determinados fatos contábeis. Mesmo que estes subvertessem seu papel e a própria contabilidade, distorcendo a realidade do negócio.

Depois da convergência da contabilidade brasileira às normas internacionais de contabilidade (IFRS International Finance Report Standards), é que finalmente, ficamos livres da tutela e rigor fiscal sobre a contabilidade. E o contador pôde registrar os fatos e atos contábeis de acordo com seu julgamento da realidade. E caso houvesse algum impacto, esse poderia ser tratado como ajuste da contabilidade tributária, fora da contabilidade, de uso do empresário e dos demais interessados.

Assim surgiu a ECF – Escrituração Contábil Fiscal, que serve para fazer ajustes à contabilidade, para os cálculos dos impostos que o fisco exige, e não o contrário. Pois assim, não se modifica a contabilidade, mas sim a memória de cálculo dos impostos federais, fora da contabilidade, preservando-a dos malabarismos fiscais e deixando de fato mais pronta pra tomada de decisões e análises científicas.

Mas realmente temos aplicado a contabilidade societária? Realmente estamos conseguindo nos  libertar da hiperburocracia? Estamos conseguindo comunicar aos nossos clientes o verdadeiro papel da contabilidade e seu poder oculto?

Fica a reflexão, para que possamos buscar as ações (e o protagonismo necessário) que irão nos levar nessa direção, para assim agregar ainda mais valor no nosso trabalho, e mostrar à sociedade o papel e o todo o poder da ciência da Riqueza.

Sempre buscaremos trazer reflexões e caminhos para juntos aplicarmos essa que é a Ciência da Riqueza, como dizia Antônio Lopes de Sá e seu amigo professor César Abicalaffe – que permanece entre nós e ávido por ver a ciência contábil com todo seu potencial a serviço do país.

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2 comentários “Quem abduziu a nossa contabilidade?

  1. Enilton Pereira Menezes says:

    Prezado Ronaldo,
    Gostei muito do seu comentário verdadeiro sobre a nossa contabilidade. Assisti sua palestra junto com o professor Cesar Abicalaffe, que considerei um ponto forte da trilha “contabilidade consultiva” que é futuro de nossa profissão. Parabéns!

    • ronaldo says:

      Muito Obrigado, Enilton!Gratidão!! Estamos juntos nessa luta de levar o verdadeiro poder da contabilidade na gestão dos negócios!!! Sucesso pra você!!!

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